Como acabar com a democracia (…)
Como é que se acaba com a democracia? Pela “educação”, proibindo o contraditório e condicionando as perspectivas.
“Primeiro, desapareceram os clássicos. Da Ilíada a Dom Quixote, passando por Sófocles, Virgílio e Dante, a razia remeteu as obras fundadoras para os covis académicos e a insignificância pública. Sobra um certo reconhecimento popular da sua importância histórica, mas a opinião geral é a de que são obras datadas, sem lugar no mundo moderno, algumas até incompatíveis com a peculiar ideia de humanismo que vingou na sociedade.”
Vale a pena ler este texto – A geração mais ridícula de sempre – do Carlos Miguel Fernandes.
Reformas educativas:”Ronaldismo”!
Esta resposta seria, eventualmente, mais adequada como definição de “Ronaldismo”, que poderá até ser uma religião para algumas pessoas. Mesmo assim, careceria de algum excesso de fé, uma vez que “6 biliões de fiéis” é manifestamente exagerado.
O Cristiano Ronaldo não tem culpa nenhuma e, pelo que sei, até costuma aconselhar a ser o melhor possível nas diferentes actividades em que as pessoas se envolvem ou praticam. Claramente, este aluno, tem bastante a melhorar.
Não há dúvida que as sucessivas reformas educativas estão a dar dividendos.
Portugal agradece!
Decência e educação? No BE não há!
Filipe VI, Rei de Espanha, foi recebido na Assembleia da República Portuguesa. Após o término do seu discurso, os deputados do Bloco de Esquerda permaneceram sentados na sua bancada. Não tinham a obrigação de aplaudir, mas uma demonstração de educação não lhes ficava mal.
Justificaram a sua atitude afirmando defender a postura republicana que sempre os caracterizou e igualmente a sua lealdade à desvalorização de “relações de poder com base em relações de sangue e não em atos democráticos”.
Deve ser por isso que aprovaram o voto de pesar a Fidel Castro e que se congratulam com a “democracia” cubana? O facto de Raul Castro ser irmão de Fidel Castro é irrelevante. Não é sangue azul!
Cuba, que o bloquistas provavelmente classificam como democracia não pluralista, é o exemplo ideal para o BE. As eleições cubanas ilustram na perfeição o ideal bloquista de um sufrágio. É o que pretendem implementar em Portugal.
Incoerência já era uma das qualidades bloquistas. Agora sabemos que decência e educação também são lacunas.
Resistir. Sempre. Decência nunca será demais
O Paulo de Almeida Sande publicou um artigo n’Observador intitulado “O espaço público, púdico, pútrido”, onde aborda a forma e o conteúdo como as pessoas se tratam hoje em dia. A regra vigente é a da gratuidade do insulto e da agressão verbal.
Escrevi há uns anos num artigo académico a seguinte frase: No universo físico, tudo é uma questão de escala. No universo social, tudo é uma questão de opção.
Numa sociedade cada vez mais polarizada, apesar de censurável, o comportamento descrito neste artigo não é surpresa. Principalmente quando o entendimento que as pessoas possuem de liberdade está incompleto. Liberdade não é a possibilidade de escolher. Liberdade é aceitar as responsabilidades das escolhas.
Partilho das preocupações e da postura expressa neste artigo.
Resistir. Sempre. Muitas vezes testando os limites da paciência. E tê-la. Muita.
Do inacreditável
.
A proposta para manter as crianças até ao 9º ano letivo na escola durante tantas horas é inqualificável.
O ritmo da sociedade em que vivemos já não é adequado à vida familiar. Só faltava mesmo uma ideia tão estúpida como esta, com o potencial para praticamente extinguir o vínculo entre pais e filhos. A convivência em família é essencial para a formação dos nossos filhos.
Não faço ideia como é que o atual primeiro-ministro e, já agora, o ministro da educação (se os tiver) educaram os filhos? Nem quero saber!
O que não quero é que o Estado venha educar os meus filhos, pois valorizo todos os momentos que passo com eles, procurando transmitir-lhes os valores que os meus pais me deram.
Não acredito que os professores e os educadores tenham a obrigação de me substituir. Ter filhos implica responsabilidades. E educa-los, que até pode ser considerado como uma delas, para mim não é.
Educar os filhos não é um dever. É mais do que um direito. É um prazer!
Será preciso dizer mais?
Na casa da Democracia, a mudança de geração acompanha os tempos e espelha o país no défice, embora este seja de cariz cultural.
e fiquem com algumas das benesses que os partidos dão à República!
A importância do voto válido
A influência do cidadão português nos destinos da Nação resume-se à participação efectiva nos diversos actos eleitorais, pois vivemos numa ditadura partidária.
Apesar de a Constituição da República Portuguesa (CRP) consagrar os direitos e deveres dos cidadãos e de, no que respeita à actuação destes na vida pública, i.e., órgãos de organização política do Estado, incentivar uma participação activa, não há dúvida que a CRP é limitativa, particularmente quanto à eleição para a Assembleia da República, ao estipular que apenas podem ser candidatos a deputados os cidadãos que sejam parte nas listas dos partidos políticos (círculos plurinominais).
São vários os argumentos para tal. O sistema eleitoral, a noção do deputado da nação, etc. Mas, na essência, pouca distinção há entre tais razões. Na realidade, para além de limitaren o acesso dos cidadãos aos cargos públicos também implicam a perda de responsabilidade dos titulares desses cargos pelos actos que praticam durante a sua vigência.
Então, podem perguntar, como é que encontramos sinais desta ditadura partidária? O primeiro desses sinais é precisamente a necessidade de ser incluído nas listas do partido. Não é difícil perceber que a quase totalidade dos lugares de governação são ocupados por filiados do partido, por pessoas que nunca trabalharam fora do âmbito partidário, seja a colar cartazes ou a fazer outra actividade afim. Aqui, para além doutros cenários, gravitam o caciquismo, o clientelismo, e, mais grave ainda, a falta de qualificação dos nossos líderes e/ou governantes.
O «voto útil» é outro dos sinais. Porquê? Porque implica um voto de exclusão. A ideia de uma escolha democrática pressupõe um voto de inclusão e este só existe se a escolha for positiva. Quando se vota num determinado partido apenas para impedir que outro partido ganhe, está-se a praticar uma escolha negativa.
É inquestionável que o quadro da actual CRP resulta do fruto das experiências e das tentativas praticadas nas anteriores Constituições, e que procura traduzir um ideal de justiça e de perfeição que é elaborado por homens que são imperfeitos. Como muito bem nota Jorge de Miranda, “não bastam as fórmulas constitucionais, por melhores que sejam, para prevenir ou resolver os problemas políticos”.
Mas também é verdade que a nossa “jovem” democracia está baseada nos mesmos pressupostos desde a sua génese. Se gratidão é devida aos partidos, a sua pendência não deve ser eterna. Goste-se ou não, se as organizações não se adaptam aos tempos tornam-se obsoletas. Por isso, talvez seja altura de ponderar uma revisão ao nosso sistema eleitoral.
Quando teorizam sobre o poder nacional, os politólogos tem em consideração, dentre dos diversos factores da equação, a adesão da população à estratégia nacional. Verdadeiras reformas são necessárias. Sem elas, a adesão da população desaparecerá.
Evidentemente, como são os deputados os detentores das prerrogativas capazes de realizar tal alteração, não é de esperar que o façam de boa vontade. Afinal, serão os principais prejudicados.
E ouvindo as vozes de descontentamento que a população manifesta para com os seus representantes políticos e o crescente afastamento entre eleitores e eleitos, à primeira vista é bastante atractivo a não participação nas eleições ou o manifestar do desagrado através do voto branco ou nulo. Mas trata-se de uma ilusão que apenas beneficia os candidatos. A melhor maneira de provocar incerteza do resultado nos candidatos é expressar validamente uma escolha nos sufrágios, i.e., votar, mas sem ser branco ou nulo.
No que respeita às eleições presidenciais, que decorrerão em Janeiro do próximo ano, a escolha vai cingir-se a uma dualidade muito simples: permitir a manutenção de um sistema inadequado e ultrapassado ou propiciar a mudança para um modelo compatível com a realidade que vivenciamos e com as aspirações que acalentamos.
Independentemente da escolha de cada um, relembro que a influência do cidadão está praticamente confinada à participação nos sufrágios eleitorais, pelo que é muito importante que a sua actuação seja activa fazendo com que o número de votos brancos e nulos não continue a atingir os níveis que tem atingido. Só assim será possível evitar os vencedores antecipados.
Por fim – porque ao contrário do que possa parecer, a democracia não é um dado adquirido mas uma dádiva que se conquista e que se deve manter – para além das conotações ou das opiniões pessoais e porque também devemos ler autores que não gostamos, recomendo as leituras, entre outras, das seguintes obras: Em primeiro lugar, a CRP. Depois, sem qualquer ordem específica, “A Democracia” (Anthony Arblaster); “Sobre a Democracia e outros estudos” (Aldous Huxley); “The Crisis of Parliamentary Democracy” (Carl Schmitt); “Entre o Passado e o Futuro” e “Verdade e política” (Hannah Arendt); e “Democracia” (Robert A. Dahl).
Nova ameaça?
Decorem este acrónimo: NDM-1
Segundo um estudo publicado no The Lancet, poderá tratar-se na nova ameaça à saúde mundial.
Desconhecimentos
Há quem ande por aí a dizer que não conhece alguém.
É normalíssimo.
O que já se torna um pouco estranho, para quem anda na política activa, é afirmar desconhecer quem são os seus adversários políticos.
Se aos trinta se escolhem as companhias, aos vinte deve-se ler Maquiavel.
Isto para quem anda na política!
(A alternativa ao insulto é o insulto.
Vivemos na mais completa falta de vergonha!)
Sem avaliação
Se forem os alunos a não perceber as questões colocadas ou a “dar” erros de português, ainda vá que não vá.
Mas quando os mesmos são praticados por quem está à frente duma Direcção Regional de Educação, a coisa muda de figura (e não houve quem a corrigisse!!!).
Ou não?
Afinal, parece-me que não é só o futuro que está hipotecado.
O presente também …
Valores, Cidadania e Segurança Nacional
Tendo em mente os diversos enquadramentos considerados numa análise à temática da Segurança Interna, optamos por uma pequena ponderação sobre a relação entre os valores, a cidadania e a defesa nacional.
Não é possível continuar a ignorar determinados comportamentos porque estes começam a ameaçar a sociedade e, consequentemente, a penhorar o futuro da nação.
O ritmo de vida específico da sociedade ocidental implica que, devido à sua exigência, os pais dispõem de menos tempo para seguir crescimento dos filhos. Necessariamente, aqueles “delegam” aos professores a tarefa da educação dos seus descendentes, esperando que, para além de conhecimentos, também lhes sejam transmitidos os valores e as regras da coexistência social basilares para a educação cívica.
Tal implica que cabe aos docentes disciplinar os alunos, mas quando os professores são confrontados com a necessidade de admoestar e/ou sancionar o comportamento dos discentes, os primeiros a expressar-se contra tais opções são os progenitores.
É, no mínimo, curioso observar que, no que se refere à cidadania e à concomitância social, parece prevalecer uma tendência natural, alicerçada numa posição individualista, em considerar que nós, percepcionados na primeira pessoa, temos Direitos e que os restantes, encarados na terceira pessoa, apenas Deveres.
É, por isso, importante salientar que a cidadania não se esgota no conjunto de Direitos e Deveres concedidos pela lei. Para que a cidadania seja plenamente alcançada é fundamental um elemento fulcral: o exemplo dos pais. Este chega-nos pelas mais variadas formas, quer seja através da formação recebida em família, quer pela disciplina, ou ainda, quer pela transmissão dos valores característicos do núcleo familiar. Estou a referir-me aos “laços” familiares que são comunicados de geração em geração e que são indispensáveis para a formação da personalidade. Ora, se os pais estão ausentes também os valores o estarão. Por mais aptos que sejam, não serão os professores quem deve suprir as insuficiências originadas por essa ausência porque nenhum docente pode ou deve substituir um pai. No limite, são um complemento dos pais.
Certamente que não é só de agora mas, ultimamente, o número de agressões de alunos a alunos e de alunos a professores aumentou preocupantemente. De acordo com o divulgado pelo Observatório de Segurança Escolar, durante o ano passado foram comunicadas, pelas escolas ao Ministério da Educação, 390 casos de agressões a docentes, sendo que as mesmas foram praticadas ou pelos discentes ou por encarregados de educação. É igualmente inquietante que, apenas num hiato temporal de dois meses, a linha SOS professor tenha recebido 68 pedidos de ajuda, todos eles referentes a problemas entre professores e alunos ou familiares destes.
Ora, um jovem que agride um colega e/ou um professor é muito bem capaz de atacar um progenitor. E imanente à figura de um pai e/ou professor está a autoridade, pelo que, também não é de estranhar o aumento, registado pela Guarda Nacional Republicana e pela Polícia de Segurança Pública, dos delitos contra agentes da lei. Seguindo esta lógica, não é disparate nenhum considerar que também a autoridade do Estado é e/ou será desrespeitada e que os valores de ligação ao país se esmaeçam.
O crescimento da indisciplina e da agressividade dos jovens é um fenómeno em efervescência. Se não for devidamente analisado poderá colocar em causa, num futuro não distante, a segurança interna do país. Que devemos então fazer? Atrevo-me a sugerir o seguinte, sendo que estas sugestões não passam disso mesmo, uma hipótese.
Fruto da acção das juventudes partidárias, da conjuntura internacional vivida na época e muito provavelmente, a factores económicos, o serviço militar obrigatório (SMO) / serviço efectivo normal (SEN) foi terminado. O serviço militar é agora voluntário, i.e., profissional. Dificilmente deixará de o ser. Mas, nos dias de hoje, quais seriam as vantagens de um SMO, ou pelo menos, de uma recruta obrigatória? Para os jovens, representaria:
1- Formação cívica e profissional (para alguns, a última oportunidade);
2- Consciencialização dos valores da defesa nacional;
3- Experiência de vida num ambiente de disciplina;
4- Enriquecimento pessoal e humano.
Por sua vez, para o Estado seria, através da consolidação do seu capital humano, um pilar para manutenção do futuro.
A participação em programas de apoio cívico e social seria outra possibilidade. Mas era necessário que essa participação fosse compulsiva e não facultativa. Qual é o objectivo adjacente a esta particularidade? Simplesmente fazer com que os jovens percebam que a vida não é fácil e que nem sempre podemos fazer o que queremos.
Actualmente, devido às circunstâncias acima descritas, o contacto entre os jovens e os diversos ramos das Forças Armadas, resume-se ao dia da defesa nacional. Apesar do mérito de tal iniciativa, parece-me que a duração da mesma é manifestamente insuficiente. E os moldes em que está formatada significam que nem todos os jovens usufruem desse contacto.
Países como a Bélgica e a Holanda, quando confrontados com as mesmas realidades que levaram ao fim do SMO no nosso país, decidiram implementar programas de forma a permitir com que todos os jovens tivessem um contacto efectivo e positivo com as Forças Armadas. Estes projectos, realizados em parceria com os respectivos Ministérios da Educação, fazem com que, nos últimos anos do ensino obrigatório, militares especialmente preparados para o efeito se desloquem às escolas para ministrar palestras e coordenar exercícios práticos com os jovens. O contacto que estes recebem da instituição militar não se resume a um dia e os benefícios daqui colhidos são multidisciplinares. A aplicação destes exemplos é outra hipótese a considerar.
As ameaças à segurança interna não resultam apenas dos novos actores transnacionais. Há outros géneros de cominações que devem ser equacionadas. Nos dias de hoje, o último baluarte dos valores reside na instituição militar. Promover e incrementar o seu convívio com a juventude é primordial, porque, na essência, a cidadania e a defesa nacional são valores.
Os pressupostos inerentes ao objectivo do “sucesso escolar”, que faz com que os professores tenham que passar todos os alunos sem qualquer tipo de exigência qualitativa, traduziram-se na efectiva perda de autoridade dos docentes e na consequente perda de respeito dos discentes. Alterar o “Estatuto do Professor” para reforçar a autoridade dos docentes e dos órgãos directivos das escolas é um passo no sentido certo, mas pode não ser suficiente. Também há que incluir, na estrutura curricular dos alunos, matérias como o civismo e a cidadania. E acima de tudo, se um aluno não sabe não deve transitar de ano. Os jovens de hoje serão os líderes de amanhã. Que tipo de dirigentes estamos a formar?
O Estado não é apenas o território, o povo e os seus órgãos políticos. Valores também são a nação. Aliás, são os valores que a sustentam. Sem estes, não haverá substância nem auto-estima. Sem estes, o Estado soçobrará.
E os caminhos para a segurança e para o futuro da nação portuguesa só dependem de nós.
Vicente Ferreira da Silva
Publicado na Cidadania e Defesa n.º 24 Março/Abril de 2007
Educação e reformas
O conhecimento é a espinha dorsal do progresso e vai transformar-se, nos próximos tempos, na riqueza (ou pobreza) nacional das nações.
O “combate” ao aquecimento global, o desenvolvimento de energias alternativas (mais limpas) e a exploração espacial, entre outros, dependem do crescimento científico e da evolução intelectual do homem.
Ora, como o erro é a base do conhecimento, as tentativas que são implementadas visando a correcção de medidas ineficazes devem ser bem recebidas. Mas quando essas experiências não dão resultado, e até provocam maiores desvios, então há que reflectir e recomeçar de novo o mais depressa possível. Caso contrário, em vez de aprendermos com o erro, persistimos no mesmo.
Partindo do pressuposto que todas as iniciativas são bem-intencionadas, quando a acção que propusemos não produz os resultados esperados, não deveria haver nenhum problema em aceitar o óbvio e seguir por outro caminho.
No entanto, reconhecer que erramos não é fácil. Muito mais difícil o é quando quem o deve fazer é titular de um cargo público e responsável pela execução de um programa político sufragado eleitoralmente, ou, pelo menos, por parte dele. Mas é precisamente devido à responsabilidade – política e social – inerente ao cargo que ocupa que é premente para um Ministro admitir o equívoco e, acima de tudo, corrigi-lo.
Contudo, se esse reconhecimento só se verifica após pressão dos media e/ou da contestação social, é ainda mais necessário não tomar medidas na emoção do momento. Igualmente é importante não optar por uma sucessão de acções, uma vez que tal processo não permitirá verificar temporalmente a exequibilidade de qualquer dessas iniciativas e, para aqueles a quem as mesmas são dirigidas, contínuas mudanças só trarão indefinição e inacção.
Se é verdade que tentar recuperar jovens que abandonaram a formação escolar, permitindo-lhes novas possibilidades de instrução, revela boas intenções, também não é menos verdade que a sua colocação em turmas de adolescentes que, embora estejam no mesmo nível de ensino, são bastante mais novos não tem alcançado os objectivos aguardados.
As políticas de educação não devem ser alteradas cada vez que um novo governo toma posse. Já o afirmei anteriormente, e nunca é demais repeti-lo. E esta circunstância não deve ser apenas aplicada na educação. Há outros sectores da vida pública que precisam do mesmo tipo de atitude.
Dependendo do ponto de vista, felizmente ou infelizmente, hoje, «O Choque do Futuro» é muito mais rápido do que o era quando ALVIN TOFFLER o descreveu. Igualmente afortunadamente ou desafortunadamente, a esperança de média de vida de um português ronda os 75 anos.
A sociedade em que vivemos não é a mesma de tempos passados. Não a mesma de há dez anos e muito menos a do ano passado. A única maneira de eliminar estas discrepâncias é estabelecer regras com princípios orientadores consistentes, mas adaptáveis à evolução social e tecnológica. A opção por substituições sistemáticas não é solução.
NIELS BOHR disse: “É muito difícil fazer previsões. Sobretudo sobre o futuro.” Mas a educação é o futuro. Sempre o foi.
Segundo o Observatório de segurança escolar, no nosso país, diariamente verificam-se duas agressões a professores. Que futuro está reservado a Portugal?
3 de Abril de 2008 – O Primeiro de Janeiro
Duas notas
Ecos do dia-a-dia, nacional e internacional, que, curiosamente, não deixam de estar interligados, merecem alguma reflexão.
A minha primeira nota vai para a educação, pedra angular para o desenvolvimento de qualquer povo, e que em Portugal anda pela rua da amargura. Independentemente do tipo de estatuto do aluno que é aprovado, e do nível a que tal regimento se aplica, pois é indisfarçável que a preocupação dominante na elaboração desse género de regulamentação está desvirtuada. O objectivo visa a melhoria de dados estatísticos em vez do possibilitar, consolidar e incrementar de conhecimento.
Numa época em que caminhamos para um tempo em que o conhecimento será, e fará, a riqueza nacional e o pilar de diferenciação entre os países, Portugal implementa regras que permitem o contínuo transitar dos alunos de nível para nível até atingirem o ensino superior. Não é de espantar que, em provas orais universitárias, alunos não saibam que a NATO e a OTAN são a mesma organização e que para um desses alunos, quiçá para mais, um genocídio seja a morte dos genes.
Nasci noutra era. Num período em que a escola exigia de mim. Graças a Deus! Como tal, consigo evocar, entre outros, ARISTÓTELES (“Todos aqueles que já meditaram sobre a arte de governar, ficaram convencidos que o destino dos impérios depende da educação da juventude”), EPITECTO (“Apenas os que possuem instrução são livres”), ARIEL e WILLIAM JAMES DURANT (“A transmissão dos valores civilizacionais faz-se pela educação”) e JOHN DEWEY (“A educação não é a preparação para a vida; é a própria vida”).
Curiosamente, e no mínimo ironicamente, quando um cidadão se candidata a uma posição aberta por um Ministério ou qualquer outro tipo de organismo do Estado, é sujeito a uma série de provas em que o grau de exigência é muito elevado. Não questiono a necessidade de selecção. Contesto o tipo de candidato que tal metodologia selecciona.
Note-se que tal método é contranatura na vida profissional. Quando, quer para o primeiro emprego como para os possam a partir daí surgir, ao serviço de uma empresa privada somos contratados para o desempenho de uma função profissional, perante a necessidade de resolução de um problema nenhum tipo de apoio ou consulta nos é vedado. Antes pelo contrário, a consulta é incentivada pois, simultaneamente, permite observar a destreza no manuseio de várias fontes e a apresentação de uma solução mais célere.
A segunda nota vai para a promoção da democracia e para a mutabilidade de posições que a metamorfose das circunstâncias implica.
Já, em anteriores artigos, afirmei a minha admiração pelos norte-americanos. Aqui reafirmo o meu respeito pelo legado que os pais fundadores dos Estados Unidos (EUA) deixaram.
JOHN F. KENNEDY disse: “Recordemos que os primeiros grandes líderes da nossa nação foram também os nossos primeiros grandes professores”. No entanto, após essa geração iluminada, os norte-americanos pouco fizeram no sentido de adequar a sua Constituição aos tempos experimentados. Quantas emendas foram aprovadas após a vigência desta estirpe?
Os argumentos da actual administração norte-americana, sustentados na doutrina da preempção, para a intervenção em outros Estados se tal permitir a defesa no seu país não andam longe dos que são apresentados pelo governo turco para a operação no Curdistão. Se tais argumentos são bons para nós porque é que não servem para os outros?
A tomada de posição de acordo com a conveniência implica falta de credibilidade. Também demonstra falta de valores. E a credibilidade e os valores são nutridos na educação.
8 de Novembro de 2007 – O Primeiro de Janeiro
Capacidades intelectuais: capital para o futuro
As sucessivas reformas educativas, implementadas por vários governos, começam a pagar dividendos. E que dividendos são esses?
Recebi, certo dia, um e-mail com o seguinte assunto: O papel da escola. Solicitava-se, num teste de português, que os alunos respondessem ao seguinte: “Num texto bem estruturado e linguisticamente cuidado, com um mínimo de 10 linhas, exprime a tua opinião sobre o papel da escola na formação de um cidadão”. Eis a resposta: “O papel da escola eu axo que é igual a um papel qualquer de imprensa A4. E de certeza que é. tem a mesma grossura e tudo. Agora se estão a falar, por exemplo, das folhas de teste que é uma folha A3 duberada ao meio fazendo duas folhas A4, axo melhor que as folhas sejam assim do que só uma folha A4, nossas fichas que a professoras dão são sempre folhas de formato A4 ou de formato A5. Os testes as professoras metam sempre folhas de formato A4 mas quando são mais as professoras agrafam sempre as folhas e nunca faze teste com folhas de formato A5. Por isso eu axo que as folhas desta escola são iguais às das outras escolles ou de outras empresas”.
Conservo este e-mail na caixa de correio. Volta e meia, abro-o para me espantar com o seu conteúdo. Não sei qual a cotação da resposta nem a nota atribuída à totalidade do teste, mas espero que o aluno tenha chumbado. No entanto, se calhar estou a pedir demais. Tenho familiares e amigos que são professores. Em conversa com eles, fiquei estupefacto por saber a quantidade de formulários, de preenchimento obrigatório, necessários para a reprovação de um aluno. Consequentemente, os alunos passam sem saber. Não é de admirar, portanto, o baixo nível dos alunos que frequentam as nossas escolas e universidades.
Começou pela matemática, alastrou ao português (língua) e agora atinge a filosofia. Parafraseando Hegel, “a linguagem é a afectividade do estranhamento e da cultura”. Mas se for necessário mais algumas referências que demonstrem a interdependência destes três, distintos e complementares, campos do conhecimento, relembro as ideias de Bertrand Russell (um dos percursores da filosofia analítica), segundo o qual todos os conceitos matemáticos podiam ser reduzidos a conceitos lógicos e as verdades matemáticas poderiam ser deduzidas a partir de umas poucas verdades lógicas e os contributos inovadores de Ludwig Wittgenstein na lógica, filosofia da linguagem e filosofia da mente.
Em 1996, Lester C. Thurow, professor de economia e ex-reitor da Sloan School of Management do MIT, disse que “no séc. XXI, as capacidades intelectuais e a imaginação, a invenção e a organização de novas tecnologias serão os ingredientes estratégicos cruciais” para qualquer país. Em Portugal, enquanto o Ministério da Ciência da Tecnologia se esforça por garantir associações com instituições como o MIT, o Ministério da Educação, ao eliminar o ensino da filosofia, opta pelo amputar das bases fundamentais para o desenvolvimento das capacidades intelectuais.
Porque é que tal é um risco para o futuro? O não ensino de qualquer um destes saberes terá um preço demasiado alto. Alunos que não compreendem as perguntas não darão respostas. Alunos que não pensam também não aplicarão soluções nem serão originais. Limitar-se-ão, quiçá, a repetir o que lhes disserem. Mas nem isso está garantido. E, para o melhor e para o pior, alguns dos alunos de hoje serão professores amanhã.
Valerá a pena apostar em novas tecnologias sem investir nas capacidades intelectuais?
Nota: encontrava-me, na sexta-feira passada numa livraria e não pude deixar de ouvir a conversa de dois sujeitos que estavam ao meu lado. Dizia o mais velho ao mais novo: “… sabes porque é que os políticos não gostam de pessoas inteligentes? Porque gostam de controlar e controlar pessoas inteligentes não é fácil”. Ao ler respostas como a referida no início deste texto, que são frutos das políticas educativas, não deixo de me questionar até que ponto isto será verdade.
15 de Fevereiro de 2007 – O Primeiro de Janeiro
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