Sobre a indignação dos subservientes (ou dos interessados)
Na origem desta tomada de posição estão as investigações que o Ministério Público português está a conduzir devido aos alegados indícios de fraude fiscal e de branqueamento por parte do Procurador-Geral de Angola, no valor de 70 mil euros, originaram uma reacção do Chefe de Estado Angolano, que na minha opinião só podem ser classificadas como pressão
Não devemos ignorar que Joaquim Oliveira tem muito interesse na rápida venda da Controlinveste, nomeadamente aos angolanos, e que este episódio de tensão entre ambos os países pode atrasar ou danificar o seu negócio.
Contudo, o Senhor Joaquim Oliveira devia perceber – e alguns membros do Governo português também – que o Ministério Público português não está diferenciar ninguém.
Está somente a proporcionar ao “alto dirigente angolano” a mesma cortesia que dá ao mais simples dos portugueses.
O Ministério Público não pode fazer o que interessa a alguém. Deve cumprir com as suas obrigações.
Este tipo de indignação condescendente, como a que Joaquim Oliveira demonstra, só serve para diminuir o respeito que por ele possam ter.
Servir ou ser serviçal
Em política haverá sempre situações surpreendentes. Infelizmente, muitas delas sê-lo-ão negativamente. Lamentavelmente, algumas delas não envergonham apenas quem as profere. Também desonram os seus concidadãos e o país.
Angola não é uma autêntica democracia. Sim, é verdade que possui uma Constituição, mas o seu chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, é-o eternamente. E descaradamente. Nem se sequer se dá ao trabalho de colocar alguém da sua confiança temporariamente no lugar, seguindo a esteia de Vladimir Putin, para depois se recandidatar.
Curiosamente, apesar desta e de outras nuances constitucionais, aos cidadãos angolanos é garantida a possibilidade de recorreram ao ministério público angolano sobre a acção dos titulares públicos. Será que pedem desculpam quando se queixam?
As desculpas no Ministro dos Negócios Estrangeiros português são mais do que um exemplo de falta de bom senso. As tristes declarações de Rui Machete são um exemplo de servidão. Não são adequadas a um Ministro, que deve servir o seu povo e representar o Estado, e impróprias dum cidadão que sabe o que é a Separação dos Poderes. São, antes pelo contrário, ilustrativas dum serviçal dos interesses.
Há condições que nenhuma conjuntura deve alterar, independentemente dos interesses em jogo. A dignidade é uma dessas condições. A sua perda implica a falta de respeito.
Neste caso, implicou a falta de respeito pelo regime democrático, pelos portugueses e por Portugal.
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