Citações e os tempos
Passados seis anos dos atentados de 11 de Setembro de 2001, o mundo mudou. Os tempos são outros. Será que pensamentos expressos outrora são capazes de reflectir os dias de hoje?
Por exemplo, a problemática gerada à volta do acontecimento supra mencionado levou, um pouco por todo o mundo, mas com especial ênfase nos Estados Unidos da América, ao implementar de variadas medidas que, ao reforçar a segurança, restringiram as liberdades cívicas dos seus cidadãos.
Em comentários elaborados sobre conjunturas análogas, experimentadas em distintos períodos da história, foram, entre outras, expressas as seguintes afirmações:
• “Aqueles que prescindem de liberdade por segurança temporária, não merecem nem liberdade nem segurança” BENJAMIN FRANKLIN;
• “Mas, quando a Constituição de um governo se desvia da liberdade, esta nunca será reposta. A liberdade, uma vez perdida, é-o para sempre” JOHN ADAMS;
• “Eu não defendo mudanças frequentes nas leis e nas Constituições, mas as leis e as instituições devem andar de mão dada com o progresso da mente humana. À medida que este se desenvolve, se torna mais esclarecido, que novas descobertas e verdades são feitas e que os comportamentos e opiniões mudam, com a transformação das circunstâncias, as instituições devem evoluir para acompanharem os tempos.” THOMAS JEFFERSON.
Por sua vez, ainda dentro deste tema, realçando uma perspectiva diferente, talvez devido ao correr do tempo, WOODROW WILSON disse: “A liberdade nunca nasceu do governo. A história da liberdade é uma história de resistência. A história da liberdade é uma história de limitações ao poder governamental, e não do seu aumento”.
Sabendo quem foram os perpetuadores dos atentados às torres gémeas e os motivos por eles sustentados como justificação para esses actos, não deixa de ser irónico que, segundo LORD ACTON, “a maneira mais fidedigna de se ajuizar o grau de liberdade de um país seja a amplitude de segurança gozada pelas suas minorias”.
E que outras consequências emergiram do já referido momento?
Das opções tomadas, resultou a guerra contra o terrorismo. Ora, os tempos de guerra não são períodos normais. E, de acordo com JIMMY CARTER, “às vezes, a guerra pode ser um mal necessário. Mas, apesar da sua urgência, será sempre um mal e nunca um bem. Não é pela matança dos nossos filhos que nós aprenderemos a viver juntos em paz”. Contudo, uma vez tomada a decisão, devemos apoia-la até ao fim. Mesmo quando não concordamos com ela. Mesmo quando más decisões estratégicas são postas em pratica.
Ter iniciado as operações no Iraque sem ter consolidado a situação no Afeganistão, poderá representar um preço muito alto. Como consequência, temos duas frentes de guerra e estamos em maus lençóis em ambas. Já não se trata apenas de retirar do Iraque. Possivelmente, também estamos perante o primeiro desaire da NATO. Assim, no limite, o seu custo será tanto a segurança como a liberdade. Consequentemente, será necessário cerrar ainda mais as fileiras.
E até à reposição da normalidade, as palavras de ADAMS, CARTER, FRANKLIN, JEFFERSON e WILSON permanecerão a ecoar nas nossas mentes.
Ler ou, para alguns, reler pensamentos anteriormente expressos e tentar adequa-los aos tempos experimentados não deixa de ser um exercício engraçado. Foi precisamente essa a intenção desta reflexão. No entanto, é pertinente equacionarmos se os autores referenciados fariam as mesmas afirmações nas circunstâncias de hoje.
Independentemente dessa possibilidade, o dilema – se assim for encarado – é que se não estamos dispostos a prescindir da liberdade por segurança, então é bom estarmos prontos a lutar, e morrer, por essa liberdade. Como muito bem disse JOHN QUINCY ADAMS: “o dever é nosso, o resultado é de Deus”.
Por incrível que pareça, consciente ou inconscientemente, a escolha será sempre efectuada. Talvez até já esteja pré seleccionada! Afinal, todos (?), possuímos o instinto da sobrevivência.
Os tempos são de escolhas. E as escolhas fazem as citações dos tempos.
13 de Setembro de 2007
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